terça-feira, 5 de abril de 2011

Minha Experiência na Tavistock Clinic de Londres
por Andre G Bastos

A Tavistock é um centro psicanalítico que existe há 91 anos. Teve como diretores nomes da envergadura de Sigmund Freud, Carl Jung, John Bowlby, Donald Winnicott, Wilfred Bion, Michael Balint e Anne Alvarez, entre outros. No momento, seu diretor clínico é o psicanalista Peter Fonagy.

A Tavistock tem um orçamento anual de 90 milhões de reais, e vem desenvolvendo estudos sistematizados sobre a clínica psicanalítica da depressão. Foi realizado na Tavistock um encontro com pesquisadores e clínicos do mundo todo em fevereiro deste ano. Foi a esse encontro que compareci, a convite, realizando também um treinamento de duração de 10 dias, na clínica.

A Tavistock funciona de forma ambulatorial e possui cerca de 200 salas de atendimento. Em outras palavras, é uma megaclínica e um megacentro de saúde mental. Mais detalhes podem ser facilmente visualizados em seu site: www.tavistockandportman.nhs.uk

Uma das principais preocupações do grupo é o déficit que ainda existe nas evidências de eficácia e efetividade da psicoterapia psicanalítica, em seus diferentes modelos (curto-prazo, longo-prazo, alta freqüência, baixa freqüência, diferentes enfoques teóricos e técnicos, etc.). Pude ver os protocolos de atendimentos para, por exemplo, transtorno de ansiedade generalizada, e está explícita que a primeira opção de tratamento deve ser psicoterapia cognitivo-comportamental, pois esta técnica teria “sólidas evidências científicas”.

Caso o tratamento “prescrito” não seja o que está no protocolo, o Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido não cobre o tratamento. Percebi que isso gera muita indignação na comunidade psicanalítica local, e que eles optaram por buscar evidências para poder manter a psicanálise existindo na rede pública.

Outra coisa que me chamou atenção em meu estágio, além da estrutura da Tavistock, foi que não me pareceu que teoricamente estejamos atrás deles. Fiquei com a sensação contrária, pelo menos do que se refere ao Contemporâneo.

Eles ainda utilizam somente a teoria sistêmica para o tratamento de casais e família, enquanto sabemos que aqui a coisa evoluiu e avançou rumo a uma teoria vincular muito mais complexa e pós-moderna. Eles continuam falando em “seio bom e seio mau”, enquanto aqui nem nos estágios se usa muito essa nomenclatura. Os alunos da formação têm dificuldades em diferenciar “projeção” de “identificação projetiva”. Nunca ouviram falar em Gabbard, em Kohut, em Lacan! Também fiquei com a impressão que há uma hipervalorização de alguns autores (Klein, Bion), e desvalorização exagerada de outros (Winnicott

Mas isso acontece em qualquer lugar, não é mesmo? Só se trocam os nomes.

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