sábado, 5 de junho de 2010

Sintomas como forma de comunicação para o bem-estar

Não é de hoje que as sociedades criam suas culturas e, dentro delas seus indivíduos tem a função de transitarem de acordo com seus ditames. Assim, “vai-se vivendo a vida”: dando conta de nossas rotinas, profissões, status sem que, na maior parte das vezes, possamos nos dar conta do que se passa,verdadeiramente dentro de cada um de nós. Acontecimentos que se fecham calados, incoerências entre o que se diz e o que se pensa, angústias que vem e que vão, a cada momento, disfarçadas sob uma fantasia diferente. Questões entramadas muito precocemente, ou enredos bem atuais que, por algum motivo ¨esquecido,¨ vão tomando conta de nossas vidas. Essas “coisas” se apresentam como sintomas, numa tentativa de estabelecerem alguma comunicação com nosso próprio eu na busca de compreensão. Sendo assim, os sintomas são o elemento fundamental para confrontar a realidade que vem sendo vivida sem ser questionada.

Sintomas são a forma pela qual a pessoa consegue manifestar suas dificuldades, patologias, emocionais e/ou corporais. Algumas, resolvem seus conflitos através de inúmeras atividades criativas, outras requerem algum auxílio especializado para poderem dominar suas neuroses. Nesta era de comunicações velozes parece cada vez mais difícil saber o que transmitir. Surgem as incongruências, sentimentos de mal-estar, vazio, escassez intelectual, insatisfação com o mundo seu redor, dores no corpo. A partir da aparição de sintomas mais incômodos, o sujeito se vê obrigado a investigar algo que justifique sua origem e, ao mesmo tempo, que lhe traga subsídios para aplacá-los.

Quando se chega ao consultório de psicoterapia, tem-se a esperança de mudar o que não vai bem, ainda que não se saiba bem o que é!E o que se encontra é uma abertura pessoal e intelectual para si próprio e para com os outros. Através da ampliação das possibilidades de novos pensamentos e qualificação da realidade vivida. Pela comunicação que se estabelece entre o paciente e psicoterapeuta reveladas verdades interiores, as quais, provavelmente, nem o próprio paciente as conhece. Através de jogos, por brinquedos, ou por palavras, vão sendo criadas experiências analíticas que visam alcançar o nexo e, por conseguinte a solução das dificuldades enfrentadas no aqui - agora.

Algumas pessoas passam a vida com a difícil missão de ter que significar algo para o mundo em que vivem, podendo perder-se do que são seus significados individuais. Como se vivessem, num mundo de manchetes sem parar para ler a noticia, enfim, sem sentir as implicações que essas notícias/sintomas trazem para si.

Na psicoterapia analítica se estabelece uma comunicação que permite a livre circulação de informações atuais, ou a serem recuperadas. O paciente traz espontaneamente todo seu mundo interno de informações, e em conjunto com o psicoterapeuta, vão interpretando e organizando as historias reveladas. Como agentes de informação da atualidade, apreendendo os significados dos fatos. Por entre falas,palavras,conversas,vai se formando um novo elo, ao tornar comum informações pela voz de um, na escuta do outro, o mundo de fantasias em que se encontram submersos tornar-se-á o mundo real.

Exercitar este tipo de comunicação inter-subjetiva, que é também inter-cultural, desenvolve ainda, canais de comunicação intra-psíquica. Ao elaborar essas vias de comunicação espera-se que o paciente possa criar novas constelações para sua vida.


Cíntia C. Schmitt