União familiar pode ser um dos segredos para a superação da depressão, afirma psquiatra
Especialista explica sintomas que indicam a hora de buscar ajuda
A melhor forma de superar a depressão é contar com o apoio da família e de especialistas. Mas qual a maneira mais eficaz de os familiares ajudar efetivamente o paciente? Para o presidente do Instituto Contemporâneo de Psicanálise e Transdisciplinaridade de Porto Alegre, César Bastos, a união da família pode ser o segredo para passar por esse momento.
Para ele, a família não deve associar a doença a uma suposta falta de força de vontade do paciente e precisa acompanhar todo o processo terapêutico de perto.
— É absurdo imaginar que ao exorcizar o paciente a "reagir" ou a "ser corajoso" a família esteja ajudando. Este comportamento apenas aumenta os sentimentos de auto-reprovação que o deprimido já se auto-dirige — explica.
Para Bastos, evitar conversas francas com a pessoa deprimida ou tentar tirá-la de seu cotidiano apenas mascaram o problema e reforçam na pessoa a ideia de "incapacidade" para lidar com o problema. Segundo ele, é preciso apostar em diálogos francos, sem esquecer que a situação é um distúrbio emocional e não motivacional.
— Antigamente era comum prescrever-se passeios e viagens ao paciente, com a fantasia de que o distúrbio emocional era semelhante as "doenças de contágio", ou seja, afastando a pessoa do ambiente pretensamente responsável pela depressão, a mesma iria buscar forças e se reinventar. Isto hoje corresponde ao folclore psiquiátrico — acrescenta.
Bastos destaca ainda que o depressivo tem dificuldades e não se sente estimulado a manter hábitos e uma alimentação saudável, o que a longo prazo pode agravar ainda mais o problema.
— De forma geral, a depressão tem muito a ver com o fenômeno da agressividade, só que, ao invés desta agressividade voltar-se para fora, em direção a alguém ou a alguma situação que tenha estado presente na origem do problema, a mesma se volta "para dentro" — afirma o especialista.
Segundo o especialista, no entanto, quando, mesmo doente, a pessoa começa a apostar novamente em uma boa alimentação e a praticar exercícios físicos, ela dá sinais de que começa a se valorizar e se aceitar novamente.
Abaixo, Bastos lista alguns dos sintomas que podem indicar a hora de buscar ajuda:
— sentimentos como irritação ou entristecimento repentinos;
— sentir-se constantemente como uma pessoa perdedora ou inferior às demais;
— dificuldades para dormir, se concentrar ou perda da capacidade da memória;
— forte abatimento com alguma perda ou apenas a sensação de ter tido essa perda;
— sentir-se constantemente como uma pessoa que costuma não "dar certo" em quase nada que faz, mesmo que por um período relativamente curto de tempo.